domingo, 21 de novembro de 2010

Série Pedobatismo e Objeções Refutadas

Pude um dia conhecer o excelente livro "Estudos Bíblicos Sobre o Batismo de Crianças" do escritor Philippe Landes e mudar a minha visão acerca da validade do pedobatismo. A argumentação apresentada alí é tão rica e competentemente desenvolvida que me vi forçado (com muito prazer) a considerá-lo como uma prática cristã coerente. Foi este livro que me abriu a mente para a crença no batismo infantil e me levou a ler mais trabalhos sobre o assunto. Irei fazer uma série onde algumas das mais populares objeções ao pedobatismo são analisadas e uma a uma refutadas:

Objeção n° 1: A objeção número um dos antipedobatistas é que as criancinhas não podem exercer uma fé pessoal em Cristo como o seu Salvador e por isso não devem ser balizadas. Baseia-se a objeção em versículos como Marcos 16:16: "O que crer e for batizado será salvo; mas c que não crer será condenado".

Resposta: Se essa objeção fosse válida, as criancinhas incapazes de fé pessoal seriam condenadas e perderse-iam, pois o texto citado afirma: "O que não crer será condenado". A criança, não podendo crer, seria condenada. E, no entanto, até mesmo os adversários do batismo infantil admitem que as criancinhas que morrem na infância são regeneradas e salvas.

O grande teólogo João Calvino, nas "Instituías da Religião Cristã" demonstra o absurdo da argumentação antipedobatista baseada em Marcos 16:16, pela citação de uma outra passagem análoga em que São Paulo afirma que não deve comer quem não quer trabalhar (II Tess. 3:10). Se esse preceito fosse aplicado às crianças, deveríamos deixá-las perecer de fome. Esse conselho do apóstolo manifestamente não é aplicável às criancinhas incapazes de trabalhar.

O contexto de Marcos 16:16 indica semelhantemente que esse texto se refere exclusivamente aos adultos capazes de ouvir o evangelho, compreendê-lo e crer n'Ele. A passagem nada diz sobre crianças incapazes de compreender o evangelho. Serão condenados apenas os que ouvem, entendem e rejeitam o Evangelho. Nada se prova pró ou contra o batismo infantil, porque neste passo não se cogita de crianças. O evangelho é pregado a pessoas capazes de compreendê-lo.

Convém notar, outrossim, que o batismo representa a regeneração operada pelo Espírito Santo no coração dos salvos e não tanto a fé humana que está germinalmente incluída na regeneração é um dos seus frutos. A fé é indispensável para adultos, mas mesmo para estes a fé seria impossível sem a sua prévia regeneração. Tudo depende da graça de Deus. Tanto na circuncisão como no batismo celebra-se e honra-se a regeneração mais do que a fé humana dos participantes dessas ordenanças. A parte indispensável é a obra da Graça de Deus simbolizada pelas duas ordenanças da circuncisão e do batismo. A fé é dispensável para a criança, uma vez que existam razões bíblicas para julgar que seja regenerada.

Os que alegam ser necessária a fé para o batismo infantil, se fossem coerentes, teriam de admitir a mesma necessidade para a circuncisão infantil, porque esta cerimónia significa a mesma regeneração representada pelo batismo, como já tivemos ocasião de provar. Quem argumenta contra o batismo infantil por causa da falta de fé das crianças, teria de rejeitar a circuncisão pelo mesmo motivo. Do contrário, colocar-se-ia na posição absurda de se opor àquilo que Deus ordenou, quando instituiu a circuncisão, sem exigir uma fé pessoal dos meninos circuncidados.

Objeção n.° 2: A segunda objeção dos antipedobatistas é sememelhante à primeira. Afirmam frequentemente que o batismo de crianças inconscientes é uma violação da sua liberdade de escolha pessoal.

Julga-se que os pais não possuem nenhum direito de decidir sobre a religião que os filhos devem seguir, mas antes devem deixá-los decidir essa questão individual e livremente, quando chegam à idade própria para escolher por si.

Resposta: É mister reconhecer que para pessoas adultas capazes de raciocinar e resolver os seus próprios problemas religiosos uma decisão de aceitação pessoal de Cristo como Salvador é absolutamente indispensável, mas, quando se trata de crianças inconscientes, os pais, de acordo com as Escrituras, são os seus legítimos representantes e devem agir em seu benefício. Assim fez Josué quando disse: "Quanto a mim e à minha casa serviremos ao Senhor" (Jos. 24:15). Josué decidiu qual seria a religião seguida pelos seus.

Nos pactos que Deus fez com o seu povo foram sempre reconhecidos os pais como os legítimos representantes dos filhos. Assim aconteceu com Adão (Rom. 5:19), com Noé (Gen. 9:8, 9) e com Abraão (Gen. 17:7). Na Nova Dispensação os pais continuam a representar os filhos, conforme a palavra autorizada de S. Pedro: "A promessa é para vós e para os vossos filhos (At. 2:30).

E é justamente por serem inconscientes e incapazes de agir por si mesmos que devemos agir pelos nossos filhinhos, decidir por eles e defender os seus interesses. Os pais decidem sobre a alimentação dos filhos, sobre o seu vestuário, sobre os seus brinquedos, sobre os seus companheiros e sobre as escolas que devem frequentar, sem que tudo isso seja considerado uma violação da sua liberdade individual. Que pensaríamos de pais que deixassem as criancinhas de tenra idade colocar na boca e engulir tudo quanto pudessem apanhar do chão? Se os pais zelam pela saúde física e moral dos filhos, por que não deverão, a exemplo do que fez Josué, decidir sobre a religião que devem seguir, sem prejuízo para a sua liberdade pessoal?

Muitos crentes piedosos, embora sejam adversários do batismo infantil, mandam os filhinhos ao departamento primário da escola dominical e ministram-lhes ensino religioso em casa, desde a sua mais tenra infância, como aconteceu com o menino Timóteo (II Tim. 1:5 e 3:15). Essas criancinhas aprendem na escola de Jesus fundada por Ele, quando disse: "Ide, pois e ensinai a todas as gentes, batizando-as em o nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mat. 28:19). Se a criança pode ser um alunozinho na escola de Jesus, tem também direito ao batismo, o sinal visível da sua matrícula, e se o educar uma criança na religião de Deus não é uma violação da sua liberdade, muito menos o será aplicar-lhe o sinal exterior desse privilégio.

A herança religiosa que Deus promete aos pais para os filhos constitui para estes um grande privilégio e uma preciosa benção espiritual. Essa bela herança não deve ser recebida como uma imposição prejudicial à liberdade do indivíduo, mas antes como a mais valiosa herança que um pai pode legar ao filho. Foi essa, sem dúvida, a intenção de Josué, ao legar a sua religião aos filhos.

Tanto as leis civis como as religiosas determinam que os pais representem os filhos até que estes atinjam à maioridade. Os pais são responsáveis pelos bens e pela conduta dos filhos, sem que isso implique em uma violação das liberdades e dos direitos próprios de menores. Quando os pais adquirem propriedades de grande
valor, os filhos herdarão essa fortuna. Semelhantemente os crentes sinceros são herdeiros de Deus e coerdeíros de Cristo e legarão a sua preciosa herança aos filhos. Quem poderá tachar isso de violação de liberdade de consciência?

Ainda mais, o batismo infantil não é uma violação da liberdade individual, porque quando a criança chegar à idade adulta fará as suas próprias decisões, na maioria dos casos, muito naturalmente confirmará alegre e voluntariamente o que fizeram os pais crentes em seu nome, ou então, excepcionalmente, empregará a sua liberdade para escolher uma religião diferente da religião dos pais.

Os privilégios civis dos nossos filhinhos apresentam-nos uma significativa analogia aos seus direitos religiosos. Logo após o seu nascimento, registramos os seus nomes em cartório como brasileiros. As crianças nascidas no Brasil e filhas de pais brasileiros são tidas como brasileiras e gozam da proteção das leis do país.
Nisso não se vê nenhuma violação da sua liberdade de consciência. Chegando elas à maioridade, muito naturalmente confirmarão o que por elas fizeram os pais, mas, excepcionalmente, poderão emigrar para uma outra terra e naturalizar-se como cidadãos de um outro país. Um brasileiro nato, a quem se ensinou a amar a pátria, não abandonará com facilidade os seus privilégios de cidadania brasileira. Semelhantemente, um herdeiro das promessas de Deus, educado na religião cristã, não repudiará com facilidade a sua preciosa herança. E em tudo isso haverá alguma violação da liberdade de consciência?

Quem se opõe ao batismo de crianças, por julgar que seja uma violação da liberdade pessoal, teria logicamente que se opor à circuncisão infantil que admitidamente foi instituída por Deus e tem a mesma significação cerimonial. Do contrário, opor-se-ia ao próprio Deus.

Objeção n°. 3: Ainda outra objeção ao batismo infantil é a seguinte: não há no Novo Testamento nenhum mandamento expresso para batizar crianças e por isso não devem ser submetidas a esse rito. Exige-se uma ordem expressa de Jesus ou dos apóstolos para justificar essa prática.

Reposta: Um mandamento expresso para batizar crianças no Novo Testamento é desnecessário, porque os discípulos de Jesus bem sabiam que as crianças tinham sido incluídas no pacto que Deus fez com o Seu povo, concedendo-lhes o privilégio de pertencer à Igreja de Deus e que por isso deveriam receber o sinal visível dessa graça. Se esse privilégio das crianças tivesse sido ab-rogado, e então sim seria preciso que houvesse uma ordem expressa cassando esse direito das crianças. As leis não ab-rogadas continuam em vigor. Não há em todo o Novo Testamento nenhuma disposição que prive as crianças do aludido direito. O ónus probandi pesa sobre os adversários do batismo infantil para mostrar biblicamente que as crianças não devem ser balizadas.

No tempo de Jesus os judeus faziam discípulos ou prosélitos circuncidando-os, batizando-os e exigindo dos pais ou mtôres um sacrifício. Os filhos menores de prosélitos eram recebidos na Igreja judaica da mesma maneira. Uma vez que já era costume batizar as crianças de prosélitos, os discípulos de Jesus, recebendo uma
ordem para batizar as gentes, deviam entender que as crianças seriam também admitidas pelo rito do batismo.

Se não há no Novo Testamento nenhum mandamento expresso para batizar crianças, também não o há para guardar o domingo como dia de descanso ou para permitir que as mulheres participem da Santa Ceia, na Nova Dispensação. Ao que parece, somente homens participaram da primeira Santa Ceia, quando Jesus a instituiu. Os referidos costumes se justificam por inferências lógicas e por bem alicerçados princípios
bíblicos. O mesmo acontece com o batismo infantil e tudo o que se pode provar biblicamente, por meio de inferências claras e seguras, deve ser observado.

Objeção n.° 4: Alegam alguns adversários do batismo infantil que o batismo cristão não pode ser o substituto da circuncisão, porque este último rito é administrado a pessoas de ambos os sexos, conquanto a circuncisão tenha sido aplicada exclusivamente às crianças do sexo masculino.

Resposta: Na Velha Dispensação, as mulheres e as crianças do sexo feminino gozavam dos privilégios do pacto que Deus fez com o Seu povo, pela representação dos pais e maridos. Ninguém negará que as mulheres e as meninas israelitas do velho regime tenham pertencido ao povo de Deus. Elas tinham esse privilégio por terem sido representadas pelos homens seus parentes chegados. Quando uma mulher de qualquer uma das tribos de Israel se casava com um homem de outra tribo; ela passava a pertencer à tribo do marido. As mulheres não agiam por conta própria, mas eram dirigidas e representadas pelos homens. Nas próprias genealogias apareciam somente os nomes dos homens. As mulheres ocupavam uma posição de inferioridade.

No Novo Testamento, Nosso Senhor Jesus Cristo conferiu novos privilégios e direitos às mulheres. As pessoas do sexo feminino não mais ocupavam uma posição de inferioridade, pois no novo regime foi abolida a antiga distinção entre homens e mulheres. São Paulo o afirma em Gal. 3:27-29; "Forque tantos quantos fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos sois um em Cristo Jesus. Mas, se vós sois de Cristo, então sois semente de Abraão, herdeiros segundo a promessa". No novo regime instituído por Jesus até mesmo os escravos se uniam à Igreja por conta própria e não por representação dos seus senhores. As palavras do apóstolo Paulo, acima citadas, levam-nos a concluir que o batismo deve ser aplicado a ambos os sexos, embora não tivesse sido assim com a circuncisão. O caso de Lídia, registrado em Atos 16:15, indica que as mães crentes, juntamente com os filhos, eram batizadas na Igreja Cristã, já se vê que na Nova Dispensação as mulheres pertenciam à Igreja por conta própria e não pela representação dos homens. Sendo assim, todos os membros da família deviam ser batizados, tanto os do sexo feminino como os do sexo masculino. Jesus deu à mulher, na sociedade e na igreja, uma posição muito mais elevada do que a que ela ocupava antes da era cristã. Eis, pois, o motivo por que as mulheres e as crianças do sexo feminino devem ser batizadas na igreja Cristã, embora para elas não houvesse um rito de iniciação na Igreja judaica.

Objeção n.° 5:
Os adversários do batismo infantil afirmam ser a circuncisão um distintivo de nacionalidade entre os judeus, sem significação religiosa, e julgam que por isso o batismo, tendo profunda significação religiosa, não pode ser o substituto da circuncisão.

Resposta: A circuncisão tem na Bíblia uma profunda significação religiosa, pois é o sinal da justificação (Rom. 4:11), ou regeneração do pecador, como o é o batismo. Ao tratar da justificação, o apóstolo Paulo declara que Abraão foi justificado antes de ser circuncidado e que para ele a circuncisão foi "o selo da justiça da fé que teve, quando não era circuncidado; para que fosse ele o pai de todos os que crêem (Rom. 4:10, II).

Já se vê que, para Abraão e sua descendência, a circuncisão tinha significação espiritual e religiosa. Era o selo da justificação que Paulo denomina justiça da fé.
Na mesma carta aos Romanos, o grande apóstolo aos gentios categoricamente confirma o catáter espiritual e religioso da circuncisão, nos seguintes termos: "Não é judeu aquele que o é exteriormente, nem é circuncisão o que o é exteriormente na carne; mas é judeu aquele que o é interiormente, a circuncisão é a do coração, no espírito e não letra; cujo louvor não vem dos homens, mas de Deus" (Rom. 2:28, 29).

Que São Paulo tinha a circuncisão como símbolo da regeneração provas ainda pelo seguinte trecho na sua carta aos Gálatas: "Porque nem a circuncisão é coisa alguma nem a incircuncisão, mas o ser uma nova criatura"(Gal. 6.15). O que tinha valor para Paulo era a significação espiritual da circuncisão.

Há, outrossim, inúmerosas passagens no Velho Testamento que se referem à circuncisão do coração, contrastando-a com a circuncisão carnal, emprestando-lhe desse modo uma significação religiosa. Quem quiser uma prova cabal do nosso asserto, leia os seguintes textos no Velho Testamento: Deut. 10:16 e 30:6; Jer. 4:4; 6:10 e 9:25, 26; Lev. 26:41 e Ezeq. 44:7. Nessas passagens a circuncisão é sinal de vida espiritual e
a incircuncisão é sinal de incredulidade e morte espiritual.

Não negamos que a circuncisão tivesse uma significação cívica para os israelitas, mas esse povo era a nação escolhida de Deus, o seu governo era teocrático e por isso a sua lealdade nacional tinha uma significação tanto religiosa como cívil. Nem sempre a profissão de fé por meio da circuncisão correspondia à realidade íntima da justificação ou da circuncisão do coração, mas isso acontece também com a profissão de fé pelo batismo. Os batizados dos nossos tempos nem todos são regenerados, mas nem por isso deixa o batismo de ter uma significação religiosa para os verdadeiros filhos espirituais de Abraão (Gal. 3:27-29).


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