quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vinícius e Mais Uma Falácia Imortalista

Uma objeção interessante foi levantada em um debate que tive ao defender o aniquilacionismo. Na verdade esta é uma objeção levantada por vários adéptos da teoria do tormento eterno:

"(O aniquilacionismo) aniquila o castigo. Deixar de existir é escapar da condenação pois você não sofrerá nenhum segundo como retribuição pelo pecado, apenas se livrará do sofrimento merecido. Você não sofrerá nenhum segundo por ofender a Deus, apenas se livrará deste sofrimento."

É interessante analisarmos que este outro argumento defendido pelo Vinícius e por outros adéptos da "churrascaria divina" apresenta o seguinte silogismo:

1. A punição dos maus consiste no tormento eterno;

2. O aniquilacionismo não implica em tormento eterno;

3. Logo, o aniquilacionismo não é uma forma de punição.

Ele nos apresenta um raciocínio absurdo, pois ao tentar provar que a proposta do aniquilacionismo implica em impunidade já possui a afirmação de que a doutrina do tormento eterno é a forma de punição pressuposta na primeira premissa, pois diz que "a punição dos maus consiste no tormento eterno" . Este é mais um argumento forçado para a existência do "inferno eterno", pois a premissa é pressuposta, não é justificada. Não pode-se concluir que o aniquilacionismo implica em impunidade devido o fato de negar o tormento eterno, sua visão de punição.

Fica óbvio que a primeira premissa é absurdamente falsa ou no mínimo injustificada quando notamos que alguém poderia também por exemplo, "provar" a existência de Cérbero mudando a primeira premissa para "a punição dos maus consiste em ser atormentado por um cachorro de três cabeças" e concluir que se não forem atormentados por um cachorro de três cabeças os pecadores estarão imunes à punição. Os pecadores destes imortalistas mostram-se irônicamente imunes também a Cérbero e se aplicarmos a mesma lógica a sua perspectiva do tormento eterno poderia ser tida como impunidade por não estar de acordo com uma visão de castigo onde Cérbero é a figura central, já que esta é teoricamente a verdadeira punição.

Inicialmente pode-se perceber que quem se baseia em tal argumento está cometendo uma falácia da falsa dicotomia, afinal o fato de dever existir um castigo para os perdidos não quer dizer que este seja necessariamente o tormento eterno. Existe também um salto enorme entre a primeira e a segunda afirmações. Não existe nenhuma motivação lógica para crer que a perpétua infelicidade seja a única ou até mesmo, a melhor forma de punição e uma grande motivação para crer que o aniquilacionismo é verdadeiro já que este implica na destruição final da imoralidade e em um mundo moralmente responsável e moralmente perfeito que se apresenta como uma descrição do caráter de Deus. É um grande erro inferir que dado o fato de que os maus merecem punição que "qualquer forma" de punição é moralmente aceitável.

Creio que não devemos confundir punição com sadismo. Seria um grande erro Deus não detruir o pecado somente para promover o sofrimento alheio. Como já havia dito não existe nenhum argumento filosófico que demonstre a necessidade essêncial de que o indivíduo sofra eternamente ou esteja em estado perpétuo de consciência para que a sua situação possa ser enquadrada como punição magna. Além disso, o sofrimento é uma entre tantas outras formas de punição, mas não a punição em si. Castigar uma pessoa matando-a sem provocar sofrimento não seria uma forma de punição se isto fosse verdade. Nós somente cremos que o tormento eterno seja uma consequência imediata e exata de pecados cometidos contra um Deus infinito porque assim aprendemos desde a infância e nada mais que isto, pois não concluimos logicamente a sua necessidade.

Em uma de suas tentativas de ultrapassar este problema o imortalista Vinícius alega que devido o pecado ser cometido contra um Deus infinito deve implicar em um juízo infinito e por isto consistir no tormento eterno, mas creio que exista um grande abismo argumentativo entre as suas duas alegações:

a) Pessoas pecaram contra um Deus infinito;

b) Logo, Deus deve provocar-lhes tormentos por toda a eternidade.

Parece-me que as pessoas tem errado feio ao crer que os maus "merecem" o sofrimento eterno quando todos (tanto os "bons" quanto os maus) não merecemos nem ao menos a pópria existência.

Por outro lado, não há nenhuma contradição explícita entre a alegação de que o aniquilacionismo é verdadeiro e a de que os maus serão punidos e cabe a quem defende o contrário sustentar o ônus da prova. Quanto a esta afirmação de que o aniquilacionismo não é uma forma de punição não creio que seja verdadeira, pois o aniquilacionismo possui implicação eterna, irreversível e uma perda infinita que é a perda da oportunidade de gozar da eternidade e da felicidade do Reino de Deus. Se Deus tem preparado para os seus eleitos um mundo onde existe uma glória inimaginável e infinita ser aniquilado sem poder participar disto e de Sua Presença é uma assombrosa punição. O fogo do inferno não faria a punição mais intensa, mas sim nonsense, pois se o inferno existisse o fogo que queimaria por séculos e séculos sem fim não passaria de mero detalhe inútil. Seria como um homem que perdeu a esposa em um acidente de carro. Se o seu carro estiver totalmente destruído isto não fará a menor diferença, pois ele perdeu a esposa amada. O fogo eterno do inferno seria o carro amassado. O problema do "inferno" não é o fogo que queima sem fim ou as trevas assombrosas que o cercam. O problema é que Deus não está nele para consolar e dar vida, amor e esperança. Este é o verdadeiro problema. Temos aqui pecados cometidos contra um Deus infinito sendo punidos com uma punição proporcional.

Jesus creio ser o maior exemplo a ser dado, pois pagou o preço pelos nossos pecados cometidos contra um Deus infinito. Sua punição, porém, não consiste em estar em perpétuo sofrimento e por isto deixa a tese proposta em frangalhos. Se a punição deve ser em qualquer caso o tormento eterno Jesus não pagou o preço pelos nossos pecados como realmente deveria. Ele esteve em um finito período de tempo sem desfrutar integralmente do Reino de Deus e Sua Divindade.

Ao dizer que perder a Deus e o Seu Reino não seria um motivo de dor para os perdidos é interessante entendermos que embora muitas destas pessoas não desejam desenvolver um relacionamento com Deus não pode-se negar que a pior coisa seria a Sua rejeição por parte do mesmo. Qualquer outro castigo que pareça ser mais doloroso para esta pessoa não supera o verdadeiro castigo tornando-se um castigo maior apenas aparentemente. Não estamos falando de qual é a maior punição aparente, mas qual é a maior punição factual. Um homem ao perder a esposa por tê-la traído pode sofrer mais com o fato de não ser mais financeiramente sustentado por ela do que perder a sua amada e um relacionamento construído durante muitos anos, mas isto não torna a segunda perda menor do que a primeira. A crença na existência de um "inferno eterno" tem portanto, nos impedido de enxergar a verdadeira perda magna. Podemos com isto concluir que o aniquilacionismo somente é uma punição altamente finita se o sofrimento físico e psicológico forem as únicas punições que temos em mente. Nosso conceito de punição deve ir muito além de "o que os olhos não vêem o coração não sente".

O cético Carl Sagan em seu célebre livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios apresenta-nos um mito que creio que em certo sentido pode nos dar uma boa ideía da glória explendorosa que os santos irão gozar no novo estado e que os perdidos serão impedidos de abraçar:

"No solstício do Inverno, com o caminhar embalado pelo uivar dos lobos, dois homens chegaram a um buraco no céu.

Um pediu ao outro para o içar...

Mas o céu era tão belo que o homem que olhava por cima da beira esqueceu tudo,

esqueceu o companheiro a quem prometera ajudar e,

a correr,

entrou em todo o esplendor do firmamento."


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2 comentários:

  1. EDSON



    (Ele nos apresenta um raciocínio absurdo, pois ao tentar provar que a proposta do aniquilacionismo implica em impunidade já possui a afirmação de que a doutrina do tormento eterno é a forma de punição pressuposta na primeira premissa, pois diz que "a punição dos maus consiste no tormento eterno" . Este é mais um argumento forçado para a existência do "inferno eterno", pois a premissa é pressuposta, não é justificada. Não pode-se concluir que o aniquilacionismo implica em impunidade devido o fato de negar o tormento eterno, sua visão de punição.)


    Cabe à vc expor uma terceira opção entre aniquilacionismo e imortalismo. A única opção que posso conceber é o inferno temporário, e o inferno temporário é puro wishful thinking. Se existe um inferno ele deve ser eterno, senão a salvação em Cristo não seria suficiente pois precisaria do auxílio do inferno temporário. Se existe outra opção o ônus de indicar tal opção é inteiramente teu.



    (Jesus creio ser o maior exemplo a ser dado, pois pagou o preço pelos nossos pecados cometidos contra um Deus infinito. Sua punição, porém, não consiste em estar em perpétuo sofrimento e por isto deixa a tese proposta em frangalhos. Se a punição deve ser em qualquer caso o tormento eterno Jesus não pagou o preço pelos nossos pecados como realmente deveria. Ele esteve em um finito período de tempo sem desfrutar integralmente do Reino de Deus e Sua Divindade.)


    O que vc esquece é que Jesus sofreu em INTENSIDADE o equivalente da punição de todos os homens, ainda que em DURAÇÃO o sofrimento tenha sido limitado. Vc esqueceu que a perda de Deus é uma perda infinita. Se a intensidade do sofrimento é maior que a duração logo a duração é suprimida, mas se a intensidade e a duração estão equilibradas logo a duração é maior. Ainda mais em se tratando de uma pena infinita.


    (Se Deus tem preparado para os seus eleitos um mundo onde existe uma glória inimaginável e infinita ser aniquilado sem poder participar disto e de Sua Presença é uma assombrosa punição. )



    Punição requer consciência. Uma punição sem consciência é como uma anestesia ou o efeito de drogas, jamais é considerado um castigo efetivo.



    (Um homem ao perder a esposa por tê-la traído pode sofrer mais com o fato de não ser mais financeiramente sustentado por ela do que perder a sua amada e um relacionamento construído durante muitos anos, mas isto não torna a segunda perda menor do que a primeira. A crença na existência de um "inferno eterno" tem portanto, nos impedido de enxergar a verdadeira perda magna.)



    A perda de Deus só é sentida e experimentada por quem possui consciência de seu estado. Um homem que morre instantaneamente em um acidente de carro não experimentou dor nenhuma, assim como um homem aniquilado por Deus não experimenta punição.

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  2. "Cabe à vc expor uma terceira opção entre aniquilacionismo e imortalismo. A única opção que posso conceber é o inferno temporário, e o inferno temporário é puro wishful thinking. Se existe um inferno ele deve ser eterno, senão a salvação em Cristo não seria suficiente pois precisaria do auxílio do inferno temporário. Se existe outra opção o ônus de indicar tal opção é inteiramente teu."

    Refutei e não vou refutar de novo. Não finja que não entendeu.

    "Punição requer consciência. Uma punição sem consciência é como uma anestesia ou o efeito de drogas, jamais é considerado um castigo efetivo."

    Evasivo como sempre tem sido.

    "O que vc esquece é que Jesus sofreu em INTENSIDADE o equivalente da punição de todos os homens, ainda que em DURAÇÃO o sofrimento tenha sido limitado. Vc esqueceu que a perda de Deus é uma perda infinita. Se a intensidade do sofrimento é maior que a duração logo a duração é suprimida, mas se a intensidade e a duração estão equilibradas logo a duração é maior. Ainda mais em se tratando de uma pena infinita."

    Além de cometer uma falácia do espantalho refutou a si mesmo, amigo.

    Xeque mate, aniquilacionista.

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