domingo, 7 de novembro de 2010

Deus Ama o Diabo?

Minha análise aqui creio ser muito filosófica, mas também muito teológica. Embora eu seja agnóstico em relação a existência do diabo e possua uma confissão pessoal não posso negar que além de seu valor teológico que um assunto em especial que o envolve pode muito nos ensinar sobre o amor de Deus e Sua natureza.

Na questão sobre a existência do diabo e a confissão da inerrância o erro dos inerrantistas é não entender que inspiração não implica necessariamente em inerrância. Se limitar a pressupor a doutrina da inerrência bíblica como um fato e conceber que os que divergem em tal ponto devem sustentar o ônus da prova constitui uma falácia da ignorância por considerar que sua visão é verdadeira simplesmente porque aparentemente não pode-se provar o contário.

Independentemente da existência do diabo ser real ou não a demonização promovida pelas igrejas cristãs e suas teorias conspiratórias tem tomado o lugar que deve privilegiar a Deus. Aliando isto ao fato de que a cultura brasileira está totalmente imersa nestas crenças e que possuímos uma grande influência por parte dos protestantismos pentecostal e neopentecostal podemos perceber que um dos sentimentos que estão relacionados aos demônios além do medo é o ódio.

Pode ficar tranquilo, pois não vou perder tempo falando sobre "pérolas" de Roger Morneau, Daniel Mastral, Josué Yrion, tio Chico, Mary Baxter, Bill Wiese, Rebecca Brown e outros. A proposta aqui é que sendo atacados constantemente pelas pregações sobre demônios e pelos extravagantes exorcismos somos levados à uma pergunta interessante: biblicamente Deus ama o diabo?

Eu já estava começando a ficar muito irritado com as apresentações de frases triunfalistas já prontas de alguns dos membros da minha igreja como "quem está revoltado com o diabo aqui?", "quem está com raiva do diabo?" ou "quem quer queimar o diabo?". Dá para se perceber com isto qual é o nível de interesse e instrução que a maioria deles possui sobre tais questões e como é difícil manter um diálogo que não se desvie rapidamente para este tipo de pergunta constrangedora.

Certa vez em um ônibus a caminho de casa esta foi uma questão abordada por mim e por um amigo meu. Ao perguntar-me sobre a perspectiva bíblica sobre o sentimento de Deus para com o diabo e os demônios ele teve uma grande surpresa: Segundo a Bíblia Deus ama o diabo, eu respondí.

A ironia por parte dele me irritou muito. Detestei a forma com que ele veio a me olhar. Com um olhar fuzilante que mais parecia dizer "eis aí mais um herege que precisa de ajuda e de um pouco de juízo" tentava me convencer do contrário já que esta minha crença, segundo ele, era tão absurda. Depois disto caímos em um tempestuoso debate. Me lembro ainda hoje como aquele dia foi horroroso.

Partindo do que as pessoas entendem por "diabo", um anjo caído, perdido e malígno eu entrei aos poucos no assunto. Eu me baseava em dois atributos conhecidos de Deus para defender minha posição de que Deus ama o diabo:

1. A Bíblia apresenta um Deus que ama incondicionalmente;
2. A Bíblia apresenta um Deus que é imutável.

Eu defendí que o amor de Deus não está limitado a postura do sujeito amado e que partindo do fato de que biblicamente Deus ama os pecadores e abomina o pecado deve-se concluir que o diabo pertence a este quadro. Se o pecador é mais ou menos culpado ou já está ou não condenado isto é totalmente irrelevante ante esta realidade já que na visão destes teólogos o diabo não é uma personificação do mal e a existência do mal independe dele.

Em meu segundo argumento eu defendí que dado o fato de que Deus é imutável deve-se chegar à conclusão de que Ele não odeia o diabo, do contrário seria necessário admitir que Ele não o criou com amor para negar tal mudança. Deus está fora do tempo, é onisciente e não pode mudar sua postura em relação ao seu sentimento pelo diabo mesmo que devido à uma rebelião defendida por parte da tradicão teologica pareça ter razões para tal. Se Deus não pode ficar surpreso com o diabo "caindo" ou mudando de lado não pode mudar de postura e odiá-lo depois que o criou com amor.

Eu sustentei diante de meu amigo que a única forma de eu mudar de opinião seria se ele provasse o contrário. Ele deveria primeiramente propor uma explicação conciliadora entre a afirmação de que Deus não ama o diabo e os Seus dois atributos por mim citados e em seguida argumentar porque deve-se teológicamente afirmar que Deus o odeia.

Parece-me que o que tem dificultado a compreensão das pessoas nesta proposta é confundir idéais bem íntimas, mas muito diferentes. Amar o diabo não quer dizer que deve-se pregar o Evangelho para ele ou crer na sua conversão, muito menos ainda quer dizer que se deve seguir sua filosofia ou abraçar sua "amizade". Isto não seria amor. Este implica simplesmente em seguir o mandamento divino de amar livremente todas as pessoas sem qualquer tipo de ressalva. O amor nos leva a termos uma mistura de alegria e tristeza com o triste fim do diabo e demais anjos.

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