sexta-feira, 4 de junho de 2010

Meu Argumento Cumulativo do Aniquilacionismo

Recentemente participei de um debate onde defendia o tão criticado aniquilacionismo. Minha proposta era apresentar meus argumentos contra o imortalismo universal e a favor do que eu chamo de existência moralmente aceitável.

Guiado pelo princípio de Anselmo de que Deus é o Ser que nada maior ou mais perfeito pode-se pensar tentei demonstrar que se o aniquilacionismo é uma melhor explicação para um mundo sujeito ao juízo divino do que o conceito clássico de "Juízo eterno", este deve ser falso.

Parti da tese de que não é moralmente reprovável que os maus não sejam atormentados eternamente, mas sim que os maus existam para sempre mesmo que em uma condição tida por não muito satisfatória, pois a perpetuação do pecador levá-nos inevitávelmente à perpetuação do pecado. Deve-se lembrar que é um argumento cumulativo e que a colaboração de vários fatores encaminha-nos para a afirmação de que o aniquilacionismo é uma visão mais plausível do que a visão tradicional do Juízo divino.

Creio que meus argumentos podem possuir várias formulações e gostaria apenas de apresentar algumas delas:

1. Deus ao punir os maus tem em vista um mundo moralmente perfeito;

2. A imortalidade dos pecadores implica na perpetuação da imoralidade e em um mundo moralmente imperfeito;

3. O sofrimento eterno não é a única forma de punição, nem a mais eficiente;

4. O aniquilacionismo não implica necessariamente em ausência de punição e não é em nada inferior ao imortalismo;

5. O aniquilacionismo implica em um mundo moralmente perfeito e é superior ao imortalismo;

6. O imortalismo é falso e o aniquilacionismo é a melhor explicação para o Juízo Final.




1. A Moral cristã implica na crença de que Deus tem em mente que Sua Criação deve ser moralmente responsável e moralmente perfeita;

2. O tormento eterno implica na existência de uma Criação moralmente responsável, mas não moralmente perfeita.

3. O aniquilacionismo implica na existência de uma Criação moralmente responsável e moralmente perfeita.



1. Um mundo onde o mal não existe é melhor do que um mundo onde o mal existe, exceto quando um mal é necessário para um bem ainda maior;

2. A existência do mal moral no mundo é filosoficamente justificada pela existência de um livre-arbítrio;

3. O livre-arbítrio não é filosoficamente uma justificativa suficiente para a eternidade do mal moral.



1. Existe uma lei que cerca o mundo que determina o que é e o que não é perfeito e que tem por finalidade criar um mundo moralmente perfeito;

2. O mundo em que vivemos é moralmente imperfeito porquê não está de acordo com os princípios originais de um Deus Perfeito;

3. Este Deus Perfeito prega que criará um mundo moralmente perfeito e considerando que Ele é Perfeito em compreensão e poder temos boas razões para acreditar n'Ele;

4. Se o pecador for atormentado eternamente, o pecado será perpetuado e o mundo não será moralmente perfeito mesmo que Deus tenha a eternidade feliz para os salvos;

5. Sendo a Lei de Deus perfeita deve ser imutável e não pode em certo momento ver o pecado como algo que deve ser exterminado e em outro eternizá-lo para promover o sofrimento;

7. O sofrimento não é a única, nem mesmo a melhor forma de punição;

8. A única forma de exterminar o pecado é não havendo mais quem o pratique;

9. O pecado pode ser extinguido do mundo através da conversão de um pecador e em um último caso destruindo-o para sempre;

10. A doutrina do tormento eterno não pode ser racionalmente conciliada com a doutrina de um Deus moralmente Perfeito porque um Deus moralmente Perfeito não pode tolerar a perpetuação da imoralidade.



Com os argumentos acima eu quero primeiramente afirmar que o tormento eterno dos maus implica no imortalismo universal e que o imortalismo universal implica na perpetuação do mal no mundo, inclusive a perpetuação do pecado. Em segundo lugar, eu creio que a alegação de que Deus não pode tolerar a perpetuação injustificada da imoralidade (que é algo moralmente errado) no mínimo razoável. Também me parece que Deus ao criar o homem teve o interesse em criar um mundo como uma descrição de Seu caráter e que isto não inclui apenas um mundo com seres que possuem uma responsabilidade moral, mas que também são moralmente perfeitos tendo assim que negar um forçado universalismo e o próprio imortalismo tradicional.

Sendo Deus um Ser universal não creio que possa limitar-se a um regionalismo promovendo a "suprema santidade" no céu e largando um "inferno" ao pecado. Isto O faria igual à uma dona de casa que fingindo varrer a casa esconde a sujeira embaixo do tapete, onde ninguém vê.

É importante desfazer um mal entendido no meio cristão. Caso alguém afirme que as pessoas condenadas estarão tão assombradas com o seu fim que não mais estarão possibilitadas de pecar e prolongar a imoralidade digo que não devemos restringir o pecado as práticas que envolvam ações mais elaboradas já que pode-se pecar com simples pensamentos e que a definição de pecador aqui tratada não é "aquele que peca", mas "aquele que está manchado pelo pecado".

Tratarei futuramente de possíveis problemas que envolvem a minha teoria.

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