segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Duas Perspectivas Escatológicas, o Perdão Divino e a Eternidade

Geralmente os protestantes trabalham com a idéia de que o perdão divino está limitado ao tempo. Deus traça uma data para a Sua Volta, oferece um tempo intermediário entre a Sua primeira e Sua segunda Vinda para que os pecadores possam se arrepender dos seus pecadores e em seguida não aceita em qualquer caso que estes venham a "mudar de lado". Ficam portanto, tais pecadores escravos perpetuamente da danação independentemente de suas escolhas posteriores. Os adventistas costumam chamar este acontecimento de "fechamento da porta da Graça" e outros evangélicos embora, não ofereçam um nome específico para esta doutrina afirmam de certa forma a mesma coisa ao dizer que não haverá mais perdão para os pecadores após a morte, a Volta de Cristo, no "inferno" ou no "lago de fogo".

Como exemplo, podemos imaginar um homem muito rico que diz a uma multidão de mendigos famintos que até determina hora da noite oferecerá comida a quem bater na sua porta e que ao chegar algum deles pela madrugada se nega a atendê-lo, mesmo ciente de sua grande necessidade. Podemos inicialmente pensar que não há erro algum da parte do benfeitor ao não atender aos apelos do pobre necessitado após o horário marcado, afinal ele tem exercido voluntariamente um trabalho muito generoso, mas ao olharmos para aquele Jesus dos Evangelhos parece-me implausível tal atitude por parte d'Ele. A pregação de Jesus de que devemos perdoar 70 vezes 7 aos nossos inimigos me faz incapaz de crer que o perdão divino está limitado ao tempo finito.

Minha visão escatológica consiste na idéia de que Deus somente privará do Seu perdão aqueles que não oferecerem "esperança" de arrependimento. Nesta perspectiva podemos propor uma parábola em que o homem não ofereceu mais comida aos famintos porque estes estão definitivamente desinteressados em sua oferta ou porque não estão honestamente interessados nela. Neste caso o envolvimento das pessoas com o pecado e a sua insistente rejeição a Deus podem com o tempo cauterizar a sua consciência e torná-las incapazes de se arrepender sinceramente. Aqui, por não haver arrependimento não há perdão.

Deus não perdoa os demônios porque estes perderam esta Graça com o passar do tempo, mas simplesmente porque se negam a se arrepender sinceramente ficando fadados a sua escolha:

2 Timóteo 4. 1-4 nos diz: "Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino,

Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.

Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;

E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas."


Hebreus 6:4-6 pode nos dar uma melhor idéia desta postura:

"Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério."

Algumas parábolas de Jesus e algumas declarações bíblicas parecem negar esta minha afirmação, mas não podemos esquecer que o verdadeiro interesse dos autores bíblicos é anunciar a Sua Vinda, a salvação final dos santos e a punição dos perdidos.

Um exemplo parecido com o que foi por mim citado podemos encontrar na parábola da dez virgens relatada no Evangelho de Mateus, 25:1-13. Não creio que o interesse de Jesus ao ensiná-la é limitar o perdão de Deus temporalmente, assim como não era Seu interesse ensinar que os perdidos ficarão um tempo por engano no céu na parábola das bodas em Mateus, 22:1-14 ao perguntar:

"Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem guardou silêncio. Então, disse o rei à sua gente: Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores; aí é que haverá prantos e ranger de dentes, porquanto, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos"

As parábolas de Jesus tem por interesse demonstrar uma verdade sobre uma questão mesmo que outra seja aparentemente negada. Ele não queria nelas falar de perdão como em outras oportunidades, mas de pena, esperança pela Sua vinda e justiça.

Talvez alguém faça uma objeção a esta visão dizendo que muitos rebeldes desinteressados em viver moralmente seriam salvos vendo esta possiblidade já que se tornar cristão ante o majestoso Trono de Deus parece ser algo muito fácil, mas devemos lembrar que o mero interesse não é um arrependimento sincero. Se este pecador estiver sinceramente arrependido ante o Seu julgamento não vejo nenhuma objeção inteligente à afirmação de que ele será salvo. Talves diante de Deus um ateu sincero diga: "Uau. Você existe mesmo!" e possa entrar no gozo eterno em seguida.

Segundo esta visão as dez virgens da parábola de Jesus não ficaram de fora do casamento do Noivo porque o Noivo não estava mais aberto para conceder perdão, mas porque sua busca por Ele consistia em mero interesse. Prova disto é que não estavam preparadas para o esperado encontro. Em nossa teologia os únicos culpados por não recebermos o perdão de Deus devemos ser nós mesmos.

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