domingo, 19 de setembro de 2010

Significado e Perda em Pascal

"Não se pode provar que Deus existe. Mas se Deus existe, o crente ganha tudo (céu) e o descrente perde tudo (inferno). Se Deus não existe, o crente nada perde e o descrente nada ganha. Portanto, há tudo a ganhar e nada a perder ao acreditar em Deus.”

Recentemente são muitas as críticas que tem sido levantadas -tanto por religiosos quanto por ateus- à clássica e tão discutida aposta pascalina. Muitos crêem já tê-la refutado em sua totalidade e embora prefira trabalhar com argumentos para a existência (e não com argumentos para a crença na existência) de Deus gostaria de "aliviar" para Pascal. Tive a oportunidade de nestes últimos dias ler um destes textos ateistas que apresentam algumas destas clássicas objeções à aposta do filósofo e matemático francês.

Tanto ateus quanto teistas cristãos são unânimes em afirmar que a vida "aqui" se vive uma só vez. Outra afirmação também de ambos os partidos é que a vida é valiosa e deve ser vivida da maneira mais significativa possível. Eles divergem é sobre qual é a forma de se viver mais significativamente: teista ou ateista.

1. A vida é única, valiosa e deve ser vivida em sua plenitude;

2. A vida não pode ser desperdiçada com filosofias desorientadoras;

3. Ou o ateismo ou o teismo eleva a vida em sua forma mais plena.

Considerando o ateismo não posso concordar com parte da primeira premissa. Se Deus não existe realmente a vida humana continua sendo curta, mas este fato aliado a outro de que ela é única não faz dela mais valiosa a não ser subjetivamente falando. Se passarmos para o campo das subjetividades uma forma de vida religiosa ou "auto-negadora" também pode ser subjetivamente valiosa. Não posso crer que partindo de uma perspectiva materialista de vida que não havendo um Deus haja diferença em se crer ou não se crer nele mesmo que a religião se baseie em um teórico futuro de bem-aventuranças. Se Deus não existe uma vida religiosa é somente uma vida religiosa e qualquer frustração de que ela pode oferecer é somente uma frustração assim como uma pedra é uma pedra.

Não posso concordar também com esta última afirmação de que a religião anula um presente garantido em função de um futuro duvidoso. Primeiramente porque como já foi dito anteriormente não havendo Deus qualquer valor mais elevado de vida é simplesmente subjetivo e qualquer filosofia baseada no prazer, no imediatismo e no consumismo é ilusória. Em segundo lugar, tal pregacão de que o cristianismo nega o presente é falsa. Ele não se dedica a negá-lo, mas o vê como uma oportunidade de manifestar a glória de Deus e participar de um profundo relacionamento desfrutando de Seu amor durante todos os dias da "vida terrena". Um cristão não está somente a negar algumas de seus desejos para "entrar no céu" e não ser condenado, mas preocupado em viver dia após dia de um relacionamento Pessoal e significativo.

A grande questão é que em sua maioria, os grupos teistas e ateistas acreditam na afirmação de que a vida possui um significado objetivamente relevante e embora, muitos ateus neguem, isto não é possível sem a existência de um Deus. Se esta afirmação de que a vida transcende a mais extrema forma de materialismo for verdadeira Deus tem que existir mesmo que não possamos capacidade de conhecê-lo em Sua plenitude. Creio que baseado nisto um argumento pode ser proposto da seguinte maneira:

1. Se o ateísmo é verdadeiro a vida não possui um significado objetivo;

2. Se a vida não possui um significado objetivo a alegação de que o ateísmo é superior ao teísmo ou uma forma mais significativa de viver é simplesmente subjetiva;

3. Logo, a própria veracidade do ateísmo é irrelevante para sustentar a sua superioridade.

Podemos concluir que somente vale a pena a aposta em uma visão da vida que vai além do mero materialismo. Se o ateismo é verdadeiro e a vida não possui um significado objetivo relevante tanto faz qual aposta for feita, pois a vida possui simplesmente um valor ilusório que damos à ela. Sendo o ateísmo verdadeiro a "aposta" envolve uma mera briga para saber quem tem a razão. Se uma aposta pode ser verdadeiramente tida por melhor, esta aposta aponta inevitavelmente para o teismo.

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