sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Deus e o Tempo

Deus e o Universo

O teismo possui a seu favor argumentos cosmológicos como o agumento cosmológico contingêncial:

1. Tudo que existe possui uma explicação para sua existência, seja na necessidade de sua própria existência, seja em uma causa externa.
2. Se o universo possui uma explicação para sua existência, esta explicação é Deus.
3. O universo existe.
4. Portanto, o universo possui uma explicação para sua existência (de 1 e 3).
5. Portanto, a explicação para a existência do universo é Deus (de 2 e 4).

Não podemos esquecer do argumento cosmológico Kalam:

1. Tudo o que começa a existir tem uma causa
2. O universo começou a existir
3. Logo, o universo tem uma causa.

A questão é que quando falamos de um universo (tempo/espaço) vindo à existência do "nada" somos levados a crer consequentemente que sua causa deve transcender tempo, espaço, matéria, ser profundamente poderosa e por fim Pessoal.


Deus e a Escatologia

Muitos ateus afirmam que a crença na Volta de um Deus amoroso e justo é algo totalmente ilusório. Afinal, Cristo nunca vem.

A frustrante e antiga espera cristã pela Volta do Cristo e de outros grupos religiosos pelo "fim do mundo" pode mostrar-se desanimador para um religioso, pois na verdade a história é contra esta idéia. Existe todo um histórico de que a expectativa vivida em anos como 1844, 1914, 2000 e tantos outros é falha que deixa a frustração mais notória. Datas para o "Apocalipse" realmente não possuem mais a mesma credibilidade popular.

A grande responsável por esta frustração é esta pregação da Volta iminente de Jesus e dos "sinais dos tempos" que tem levado vários cristãos à uma alienação. "Deixados Para Trás", o imediatismo e a propaganda dispensacionalista pré-tribulacionista tem infelizmente minado o meio cristão evangélico.

A verdade é que a afirmação teista "Deus virá" não pode ser derrubada com tais frustrações históricas. Suponhamos que daqui a três séculos as pessoas totalmente aborrecidas com tal idéia se sintam mais dispostas à negar tal princípio escatológico dizendo "Deus não veio. A crença de que Ele irá Voltar é falsa!" . O problema com esta afirmação de que algo não irá vir ou acontecer porquê não veio ou aconteceu ainda é que a afirmação contrária nem sempre pode ser derrubada pelo fato do esperado não ter vindo ou acontecido ainda.

Suponhamos (novamente) que um homem tenha que deixar a esposa e defender o seu país em uma guerra e que ao receber cartas dela descobre que a tenha deixado ainda grávida. Suponhamos ainda que este pai não tenha a oportunidade de ver o filho crescer e que escreva ao filho uma carta dizendo que voltaria um dia para conhecê-lo. A afirmação do pai de que irá voltar poderá tornar-se mais implausível por exemplo quando o filho fizer sessenta anos, pois o seu pai provavelmente estará morto. A promessa do pai ao garoto está sujeito ao fator guerra e a uma existência limitada temporalmente, mas o mesmo não ocorre com Deus.

Se tivermos que negar que algo irá ocorrer simplesmente porquê ainda não ocorreu teremos que dizer também que o futuro não existirá, que o Corinthians nunca ganhará uma Libertadores ou que a nossa filha de quatro anos nunca terá idade para se casar. Seria o mesmo que duvidar da alegação de que a primavera vai chegar porquê ela ainda não veio.

A melhor maneira de derrubar a esperança cristã é acrescentado a premissa (1)Deus não existe ou então, (2)Deus não possui motivos para voltar e então apresentar uma justificativa para ela. Mesmo que daqui a três séculos Deus ainda não tenha vindo nunca poderemos conceber que a afirmação Deus virá é falsa, pois estariamos comentendo o erro de limitar Deus ao tempo. A pregação ateista e deista "Deus não veio, logo Deus não vai vir" é claramente uma falácia non sequitur.


Os Judeus e Jesus

É de se estranhar que os argumentos judaicos contra a aceitação de Jesus como o Messias se baseiam essencialmente na limitação dele em Seu ministério messiânico afirmando que Jesus não preencheu todas as profecias pertinentes ao Messias. Não estou aqui, entretanto para defender mitos como o nascimento virginal de Jesus ou o seu nascimento na cidade de Belém, mas daquilo que podemos chamar de Jesus histórico.

Creio que Jesus já nos forneceu evidências suficientes de Sua divindade considerando o argumento ressurrecional como um indicativo de Sua divindade.


Deus e Epicuro

Muitos ateus costumam propor o paradoxo de Epicuro para demonstrar a impossibilidade do Deus cristão com Seus atributos em um mundo onde existe o sofrimento. Existem várias formulações deste falacioso argumento, mas creio que possa demonstrá-lo assim:

1. Se é Deus todo-bondoso, soberano e onisciente deve destruir o mal;
2. Deus não destrói o mal;
3. Logo, Deus não pode ser ao mesmo tempo todo-bondoso, soberano e onisciente.

Este argumento acaba cometendo o mesmo erro anteriormente citado: limitar Deus ao tempo. Ao acrescentar depois das premissas (1, 2) a premissa "Deus destruirá o mal" toda a proposta cai por terra:

1. Se é Deus todo-bondoso, soberano e onisciente deve destruir o mal;
2. Deus destruirá o mal;
3. Logo, Deus pode ser ao mesmo tempo todo-bondoso, soberano e onisciente.

Para usar o próprio argumento contra estes "grandes pensadores" podemos mostrar que ele é um pouco espinhoso para os seus adéptos da seguinte forma:

1. Se é Deus todo-bondoso, soberano e onisciente deve destruir o mal;
2. Somente se pode destruir aquilo que existe;
3. Mesmo sendo Deus todo-bondoso, soberano e onisciente a alegação de que o mal pode vir a existir é justificável.

Talvez alguns creiam que um paradoxo não pode ser assim tão facilmente resolvido, mas é um fato: o paradoxo é uma aberração lógica e devemos tomar cuidado com um tão óbvio argumentum ad antiquitatem. Muita fama, mas nenhuma coerência.

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